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7 de out. de 2010

Brigas são sempre bem-vindas.


- Chega, eu não aguento mais ouvir a tua voz, eu não aguento mais enchergar essa tua cara. Sai daqui e me deixa em paz.

Bato a porta e ando pela rua sem rumo. Qual é o problema dessa mulher?

Todos sabem que uma carreira de escritor não nasce da noite pro dia, e quando nós nos casamos ela sabia que esse seria o meu futuro, pelo menos por um tempo.

O dia radiava, era um domingo de sol, totalmente o contrário do que se passava dentro de mim.

Tudo bem, em partes ela tinha razão, já faz um ano que eu sou sustentado por ela.

E agora já estava batendo um pequeno medo.

Será que daria certo? Ou será que tudo isso não passava de um sonho de infancia?

Não. Não, não, não. Não se deixe levar pelo que ela pensa.

O amor é uma merda mesmo.

Entro em um bar fulero e com uma luz horripilante. Peço uma da boa e acendo um cigarro.

Primeira pergunta: O que eu quero pra minha vida?

Sim, essa é facil.

Eu quero ser um escritor renomado, escrever muitos livros, e continuar com a vaca da minha esposa.

Pronto. A primeira já foi.

Segunda pergunta: O que fazer pra minha mulher me entender?

Então... essa eu não sei. Vamos para a próxima.

Terceira e ultima pergunta: Eu ainda a amo? Eu ainda amo a minha esposa?

É, eu ainda a amo. E amo muito. Ela foi a única pessoa que não me abandonou e nem virou a cara pra mim durante esses 12 meses.

Fiquei bebado. Que merda. Ainda dá para ir para casa sozinho.

Saio do bar às 11 horas, resolvo que ainda é cedo pra ir pra casa.

Resolvi dar uma caminhada na praia. Sentei na areia.

Chorei. Chorei como eu não tinha chorado há muito tempo. Não, na verdade eu nunca tinha chorado daquele jeito. Meu peito doia, minhas mãos tremiam, eu soluçava e já não enchergava por causa das lágrimas que se empurravam para escapar dos meus olhos.

Por que ela não conseguia entender? Devia mesmo ser dificil pra ela sustentar alguem, mas, foi ela que quis assim. Quando nos conhecemos, eu falei que antes de escrever um livro eu seria obrigado a fazer uma faculdade para poder me sustentar. E, tres meses depois, nós estavamos morando juntos, por que ELA tinha dito que iria me sustentar e sustentar a nossa casa para me deixar livre e desempedido para escrever o meu primeiro livro.

Mas um ano depois ela mudou totalmente de idéia! E agora ela vem com essa história de que não aguenta mais me ver em frente ao notebook, tomando café, fumando um cigarro atras do outro e digitando loucamente.

Meu livro é sobre um possivel mundo paralelo, colorido e um pouco diferente do que estamos acostumados.

E de uns tempos pra cá, ela resolveu emplicar tambem com o assunto do MEU livro.

- Posso ser sincera?

Neste caso, não adiantaria nada dizer ‘não’, do mesmo jeito ela falaria.

- É que esse teu texto está um pouco fora do padrão.

- Tudo bem, e o que é o ‘padrão’? – ela sabia exatamente como me tirar do sério. – Esquece, eu não quero saber o que é o teu padrão, eu estou hoje bem criativo e não vai ser com as tuas piadinhas que tu vais me tirar do sério.

Quem nos via discutindo, dizia que eu era agressiso, grosso, até rude.

Mas ninguem conhecia ela de verdade, ela é muito inteligente, sabe como fazer alguem sair do sério, sem mexer quase uma palha.

Dormi na praia, e acordei com um cachoro lambendo o meu rosto, não foi uma das melhores maneiras de acordar.

Minha cabeça latejava, levantei da areia e fui caminhando em direção a cidade. Caminhei até em casa, e parei na porta.

Eu não pensei nem por um segundo no que iria acontecer depois que eu entrasse em casa.

Dessa vez, teremos opçoes.

A) Eu vou entrar em casa, a minha esposa vai me receber de braços abertos e com o rosto encharcado de lágrimas.

B) Eu vou entrar em casa, ela vai falar meia duzia de besteiras, mas vai acabar dizendo que me ama e que me aceita de qualquer maneira.

C) Eu vou entrar em casa, ela vai falar eternamente, vai ir no quarto e vai voltar com as malas prontas.

Vai chorar. Eu vou chorar. Ela vai dizer que me ama, mas que não aguenta mais essa vida, e vai sair pela porta depois de dar uma ultimo olhar para mim.

D) Eu vou entrar em casa, e ela já tera indo embora. O guarda-roupa estará vazio e terá um bilhete no Word do meu notebook: “ Te amo, mas preciso recomeçar a minha vida longe de ti”

É melhor esquecer a opçoes e entrar logo em casa, um pé de cada vez.

Abro a porta, e o desespero toma conta do meu peito. Entro em casa e logo escuto um barulho no quarto, entro pé por pé, para não fazer barulho. Chego no quarto e lá está ela, sentada na cama, chorando e com uma foto minha nas mãos.

Entro no quarto e sento ao seeu lado. Ela coloca a foto na mesinha e se abraça em mim, ficamos assim, por horas, vendo o sol se mexer na janela.

- Desculpa, eu sei que esse é o teu sonho, desculpa, eu te amo tanto.

- Eu tambem te amo. Eu devo tudo a ti, tudo que eu já escrevi eu devo a ti, tudo que eu já vivi eu devo a ti. Eu devo a minha vida inteira a ti.

- Meu escritor predileto, vamos tomar café?

- Vamos!

Fomos para a cozinha, eu sentei na mesa em frente ao notebook, ela foi preparar o café. Preparou o café e sentou-se ao meu lado em silencio.

Em menos de uma hora eu terminei o meu trabalho de um ano.

Fiquei dias relendo o livro, imprimi e deixei em cima da mesa da cozinha, todo dia eu lia um pouco.

Um certo dia eu acordei de manha e o livro não estava mais lá, fiquei louco esperando minha esposa chegar do trabalho. Ela chegou sorridente dizendo que havia enviado por correiro o livro para uma amigo que trabalhava em uma editora.

Uma semana depois, recebemos uma ligação do tal amigo, dizendo que o meu livro seria o próximo livro da lista dos mais lidos do mundo.

O livro vendeu muito, e a editora fechou um contrato comigo.

É, essa é a prova de que brigas são sempre bem-vindas.