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19 de jul. de 2012

Um olhar, um pulo...poço.



Entre umas ou outras andadas de ônibus, apaixonei-me por um rosto. Uma expressão vazia, triste, melancólica, cheia de mistérios.
Observo. Observo.
Seus olhos percorrem um caminho igualmente vazio, como se olhasse, mas não visse.
Como se mesmo estando a poucos passos dela, estivesse distante, sensação de que quilômetros nos afastavam.  Como se a verdadeira essência dela não estivesse ali, mas estivesse no fundo de uma escuridão de mágoa extremamente sólida.
Não é lógico, nem prático, nem normal, nem comum. É selvagem, irracional, desligado de qualquer onda de normalidade.
Observei sua expressão que nunca mudava, eu já nem mais lembrava qual era meu destino, pelo contrário, meu destino havia se tornado aqueles olhos vazios que mais me apareciam poços profundos e gélidos. Mesmo moderadamente longe, eu podia sentir seu perfume mágico, talvez isso fizesse parte do efeito que ela provocava em mim, mas o cheiro pertencia a ela. Era um cheiro doce, forte, e muito sedutor, mas também era muito triste.
Eu podia sentir a vibração do seu corpo aparentemente morto, que agora olhava nos meus olhos, Deus, ela está olhando nos meus olhos. Fugir não seria possível, olhos que funcionavam como imas. Não havia mais distancia nenhuma entre nós, os meus olhos grudados nela, e os dela grudados em mim. Não me importava se alguém assistia aquela cena, não me importava onde estava, nem até onde iria chegar.
Foi quando tudo realmente se apagou e apenas uma coisa brilhou: um magnífico, brilhante, devastador e arrasador sorriso. Não, não estou exagerando, era o sorriso mais enlouquecedor que eu já vi na vida. Eu não precisava saber seu nome, nem sua idade, nem seu livro preferido. Eu á amava, amava seu interior, não poderia dizer se era bonita ou não, pois estava completamente mergulhado naqueles abismos que viviam no lugar dos olhos.
E como um piscar de olhos tudo sumiu, não saberia dizer se foi sonho, só sei que foi físico.
O ônibus se mantinha idêntico, e eu não lembrava nada, e ainda não lembro.  Minha memória foi junto com ela, meu nome, minhas idéias. Até que me acharam perigoso para viver em sociedade, o que não era verdade, pois eu não fazia nada, apenas tentava procurar aquele olhar, mas todo mundo tinha medo do meu olhar.
Fui parar no paraíso, onde eu podia andar sem rumo até o limite de algumas paredes, alguns chamam o paraíso de manicômio, eu não sei o que significa. Certas palavras não conseguem mais fazer sentido pra mim. Algumas pessoas aparecem aqui com frequência, elas choram, me abraçam e depois saem do meu paraíso, não consigo reconhecê-las, mas elas falam como se me amassem.  
Cai pra dentro dela, foi por isso que tudo desapareceu, na verdade eu não estava mais lá, já estava no poço.
Vivo em um poço, delicioso poço, meu poço.