Sabe aquele livro que te faz visitar vários lugares? Te faz sentir vários cheiros? O inventário de um escritor irremediável, é bem assim. Além de ser um livro que me fez chorar - SIM, CHORAR! - como se eu tivesse sido amiga intima do Caio, sofri com ele, sorri com ele, e acompanhei cada passo dele. Impossível não chorar ao perceber que ele não era apenas um grande escritor, era também uma pessoa magnífica.
Herdei do
meu pai a mania de sublinhar livros, sempre sublinhei todos os meus livros,
virou tradição. Até hoje, O inventário é um dos meus livros mais sublinhados.
Você deve estar pensando que sublinhei apenas os trechos poéticos, mas não meu
caro amigo, tal foi minha surpresa ao encontrar uma escritora tão boa e tão
ácida quanto o próprio Caio. Ela brinca com as palavras, é como se a cada
acontecimento, nós leitores, pudéssemos ficar mais perto do Caio e dela também.
Jeanne
Callegari, foi tão sensível, que eu não consigo imaginar que
ela própria não tenha chorado ao escrever. É claro que a bagagem que o nome de
Caio carrega, é mais do que suficiente para uma boa biografia; sou extremamente
suspeita para dar opinião sobre qualquer coisa que envolva o Caio mas,
convenhamos, ele era um mestre com as palavras. Um ser divinamente
incompreendido, perdido dentro de uma mente acriançada.
Mas
Jeanne conseguiu ir alem do clássico de uma biografia: é como participar de uma
brincadeira ao lado de Caio de dez anos e tomar vodka em uma rua qualquer ao
lado do mesmo alguns anos depois. Leitura obrigatória para todo fã de Caio, é
muito surpreendente ler um livro dele ou até mesmo um conto, quando se conhece o
contexto. São informações raras, que reconstituem o cenário em que
seus contos, romances e peças de teatro surgiram. Para levantar
as informações, Jeanne realizou uma investigação que durou três anos,
são resgatadas reportagens e entrevistas dadas a jornais e a
programas de TV e cartas de Caio.
É
mágico, surpreendente e extremamente emocionante ter a vida de
um ídolo nas mãos contada de forma rica em detalhes e emoções. Ler
esse livro é ganhar dois grandes presentes: a vida e a obra de um homem que foi
e sempre será do tamanho exato do meu vazio, e a descoberta de uma
escritora excepcional.
Existe
também, um lado no Caio que me é muito familiar: a ligação que ele tinha com
músicas e filmes e como ele utilizava trechos em seu dia a dia, é
fácil de perceber isso em suas cartas, onde Caio mostrava seu lado mais
irônico, hilário, eu diria.
Ele
assinava, muitas vezes, como Caio F. numa referência ao livro "Eu,
Christiane F. 13 anos, drogada, prostituída..."
Pronto,
isso é o que me cabe neste latifúndio, não ousaria ir além. Até por que,
existe um livro esperando.
Inventário de
um escritor irremediável. Jeanne Callegari